Fonte da imagem: Pixabay

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O pacto do silêncio no abuso infantil e suas consequências na vida adulta

O abuso infantil, em suas diversas formas cruéis e dolorosas, representa uma das maiores atrocidades que podem acontecer a um ser humano. As vítimas, muitas vezes crianças inocentes e indefesas, sofrem traumas físicos, emocionais e psicológicos que podem deixar marcas profundas para o resto da vida. Uma das características mais perversas dessa realidade é o "pacto do silêncio", um acordo tácito ou imposto que obriga a criança a manter o segredo do abuso, sob ameaças, chantagens ou a falsa promessa de proteção.

Negação, Culpa e Desmentido: Obstáculos à Cura:
Romper o pacto do silêncio e buscar ajuda é um processo extremamente desafiador para as vítimas de abuso infantil. O medo, a vergonha, a culpa e a negação do trauma são alguns dos principais obstáculos que dificultam esse processo.

Negação: A negação é um mecanismo de defesa comum em vítimas de abuso, que serve para protegê-las da dor e do sofrimento. Negar o abuso pode ser a única maneira que a vítima encontra de lidar com a experiência traumática.

Culpa: As vítimas de abuso infantil muitas vezes se sentem culpadas pelo que aconteceu, acreditando que elas poderiam ter feito algo para evitar o abuso ou que de alguma forma mereceu ser abusada.

Desmentido: O desmentido do abuso por parte de familiares, amigos ou figuras de autoridade pode ser extremamente prejudicial para a vítima, reforçando seus sentimentos de culpa e vergonha e dificultando ainda mais a busca por ajuda.

Outras razões
•    Ameaças e chantagens: O agressor pode ameaçar a criança ou chantageá-la para que ela não revele o abuso.
•    Falta de conhecimento: A criança pode não saber que o que está acontecendo com ela é errado ou que ela pode pedir ajuda.
•    Impotência e desesperança: A criança pode se sentir impotente e sem esperança de que a situação possa mudar.
É importante lembrar que cada caso é único e as razões pelas quais uma vítima se silencia podem variar.

Estatísticas do abuso infantil
O abuso infantil no Brasil assume proporções alarmantes, configurando-se como um problema social de extrema gravidade. As estatísticas disponíveis indicam um cenário desolador, marcado por números que comprovam a urgência de ações efetivas para proteger nossas crianças e adolescentes.

Conforme os dados obtidos pela Fundação Abrinq, a violência sexual no país é um problema que afeta maioritariamente as crianças e os adolescentes. No ano de 2022, mais de 45 mil tinham como vítima pessoas com menos de 19 anos. A proporção corresponde a 73,8% - isto é, em média, a cada quatro casos de violência sexual no Brasil, em três a vítima é criança ou adolescente.

O Cenário da Infância e Adolescência no Brasil 2024 também identificou que, entre as notificações de violência sexual ocorrida contra crianças e adolescentes, a maioria das vítimas são do sexo feminino. Em 2022, foi constatado que as meninas abusadas corresponderam a 87,7% dos casos de violação ocorridos no país.

Fatores de Risco:
Diversos fatores podem aumentar o risco de uma criança ou adolescente sofrer abuso, incluindo:
•    Pobreza e exclusão social.
•    Violência doméstica.
•    Histórico de abuso.
•    Falta de rede de apoio.

É fundamental romper o ciclo do silêncio que envolve o abuso infantil. Denunciar os casos de violência é essencial para que as vítimas recebam o apoio e a proteção de que necessitam, e para que os agressores sejam responsabilizados por seus crimes.

Prevenção
A prevenção do abuso infantil é fundamental para proteger as crianças e garantir seu desenvolvimento saudável, e exige um esforço conjunto de toda a sociedade, incluindo famílias, escolas, comunidades, governos e instituições.

Medidas Essenciais para a Prevenção:
•    Estabelecer um diálogo aberto e frequente com as crianças sobre seus sentimentos, preocupações e experiências.
•    Utilizar linguagem simples e adequada à idade para explicar o que é abuso sexual, quais são os sinais de alerta e como buscar ajuda.
•    Ensinar as crianças a confiarem em adultos de confiança e a comunicar qualquer situação que as faça sentir desconfortáveis ou inseguras.
•    Incentivar as crianças a expressarem seus sentimentos livremente e a buscarem ajuda quando precisarem.
•    Ensinar as crianças sobre seus direitos e como se proteger de situações de abuso.
•    Vigilância e Orientação:
•    Estar atento aos sinais de abuso infantil, tanto nas crianças quanto em seu entorno.
•    Monitore o comportamento das crianças e converse com elas sobre suas atividades e relacionamentos.
•    Orientar as crianças sobre como se comportar em diferentes situações, como ao interagir com estranhos ou ao usar a internet.

As consequências do silêncio na vida adulta
O silêncio do abuso infantil não se limita ao momento do trauma. Ele se perpetua ao longo da vida, lançando uma sombra escura sobre o desenvolvimento físico, emocional e social das vítimas. As consequências são devastadoras e podem se manifestar de diversas formas:

•    Problemas psicológicos.
•    Dificuldades nos relacionamentos: dificuldade em confiar nos outros, formar e manter relacionamentos saudáveis, medo de intimidade, problemas sexuais. A capacidade de amar e ser amado é afetada, criando barreiras nas relações interpessoais.
•    Baixa autoestima: sentimentos de vergonha, culpa, inadequação e baixa autoestima, que podem levar ao isolamento social, à autodepreciação e à autoagressão. A imagem de si é distorcida, minando a confiança e a autovalorização.
•    Problemas de saúde física: doenças psicossomáticas, como dores crônicas, distúrbios alimentares, enfraquecimento do sistema imunológico. O corpo manifesta o sofrimento psicológico, comprometendo a saúde física e a qualidade de vida.
•    Repetição do ciclo de abuso: em alguns casos, vítimas de abuso infantil podem se tornar abusadores ou serem mais propensas a se envolver em relacionamentos abusivos na vida adulta. O ciclo de violência se perpetua, gerando novas vítimas e traumas.

Canais de denúncia
O silêncio do abuso infantil tem consequências devastadoras para as vítimas, tanto a curto quanto a longo prazo. É crucial quebrar esse ciclo de silêncio e oferecer apoio e ajuda às vítimas para que elas possam superar o trauma e reconstruir suas vidas.

Suspeitando que uma criança está sendo abusada, procure ajuda. O dever da sociedade é denunciar o caso às autoridades competentes ou buscar ajuda em um centro de atendimento especializado em abuso infantil.
•    Disque 100.
•    Conselhos Tutelares.
•    Delegacias de Polícia.

 

"Rita Ramos Cordeiro é escritora, jornalista, articulista, psicanalista, voluntária e desenvolvedora de conteúdo para sites."

Rita Ramos Cordeiro